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9.21.2009

O filósofo e Roberto Carlos

Por: Reinaldo Polito

É muito curioso observar nas salas de equipamentos de algumas empresas o velho convivendo com o novo. No alto da prateleira vemos um aparelho que projeta disco blu-ray, com capacidade que varia de 25 a 50 gigabytes, enquanto no outro canto, ainda em perfeitas condições de uso, um retroprojetor modelo 66.

Essa convivência do passado com o presente ainda deve perdurar por alguns anos. O fato de equipamentos de alta tecnologia serem lançados a todo o momento não elimina a utilidade de aparelhos que até ontem frequentavam as mais sofisticadas salas de eventos.
Embora tenha todas as limitações, um retroprojetor ou um projetor de slides, por exemplo, poderá cumprir perfeitamente o papel de apoiar palestras e conferências. Desde que o aparelho consiga projetar telas que destaquem as informações relevantes, facilitem o acompanhamento do raciocínio e permitam que a plateia se lembre das informações por tempo prolongado será tão útil quanto qualquer outro.
Na última sexta feira, dia 21 de agosto, tive uma experiência intrigante a esse respeito. No período da tarde realizei um antigo sonho, fui assistir a uma conferência de um dos filósofos que mais admiro na atualidade, Pierre Lévy. Ele se apresentou no Sesc Santana para tratar do tema "Em direção à civilização da inteligência coletiva".

De maneira didática e bem-humorada Pierre Lévy falou sobre o impacto dessa nova era que mudou e está mudando radicalmente a forma de nos comunicar e de viver. Para o autor de "Cibercultura", todos estamos em comunicação, não apenas como receptores, mas também como produtores de conteúdo. Esse é um processo irreversível. Nada mais novo e atual que esses conceitos.

No mesmo dia, no período da noite, mudei o roteiro e fui assistir ao show do Roberto Carlos, no ginásio do Ibirapuera. Cheguei com bastante antecedência, mas os lugares já estavam praticamente tomados. Tive de me apertar para conseguir ficar ao lado do palco. Quando o Rei apareceu, o ginásio quase foi abaixo.

Nessa turnê que Roberto Carlos faz por diversas cidades brasileiras, ele comemora seus 50 anos de carreira. Por mais que suas novas músicas sejam atraentes, a plateia só fica satisfeita se ele cantar também as velhas canções. Eu também me emocionei quando o cantor interpretou músicas que marcaram minha juventude. E ponderei sobre a importância de nossa história, de nosso passado, daquilo que faz, enfim, sermos o que somos - nossas emoções, nossos afetos, nossas alegrias e tristezas.

Além de constatar que é possível tocar a mesma platéia tanto com as mensagens novas quanto com as antigas, dependendo apenas da forma como o assunto seja abordado, no show do Roberto Carlos ocorreu um fato curioso. Em determinado momento, dos raros em que ele conversa com a plateia, mencionou que havia gravado um disco.

Riu ao perceber que não era mais disco, mas sim DVD, ou melhor, blu-ray. Interessante que nessa simples frase, procurando se corrigir, o cantor fez um retrospecto completo dos seus 50 anos de carreira: disco, DVD e blu-ray.

Nessa mesma sexta feira ouvi dois de meus ídolos. O filósofo Pierre Lévy falando do futuro e de como vamos nos comunicar a partir de agora, recebendo e produzindo conteúdos. E Roberto Carlos cantando músicas que compôs há mais de 40 anos. Os dois me tocaram com sua mensagem e me emocionaram, independentemente da época a que se referiram.

O velho e o novo não são melhores nem piores. Aprender a conviver com o passado, o presente e o futuro pode ser importante para que a nossa mente esteja aberta, sem preconceitos, para avaliar apenas o que tenha ou não qualidade.

..:: Superdicas da semana ::..

- Geralmente tememos o novo por ainda ser desconhecido;
- Conhecer as novidades nos deixa atualizados, mesmo que não gostemos delas;
- Estudar o passado é um bom caminho para saber como será o futuro;
- Ninguém consegue se aprofundar em cada assunto novo. Por isso faça escolhas.

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