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7.29.2009

A geração profissional pós-crise: novo desafio na gestão de pessoas

Por: Floriano Serra*

Profissionais e empresas agora respiram um pouco mais aliviados: a famigerada crise já dá sinais de estar sendo vencida, embora não na velocidade e na dimensão que todos gostariam. Ainda é pouco, mas, diante das catastróficas previsões que foram feitas no seu auge, nos primeiros meses do ano, já é um bom motivo para se acreditar que o pior já passou e que a vida continua como antes.

Muitas seqüelas emocionaisalém das financeiras - ficaram e vão continuar por algum tempo. Empregos foram perdidos, oportunidades foram deixadas de lado, planos e projetos foram adiados e muitas empresas, se não fecharam, tiveram seus alicerces comprometidos e perderam a solidez de antes. Há, agora, para todos, um longo e difícil caminho de recuperação – certamente possível, mas nem por isso mais fácil.

No caso específico das demissões, cabe aos principais gestores das empresas uma cuidadosa reflexão a respeito. Há casos em que ocorreram precipitações e excessos nas decisões. Muitos profissionais dedicados, comprometidos e talentosos foram dispensados aos milhares, em nome de uma às vezes discutível redução de custos. Nem todas as empresas que fizeram demissões, procederam de forma planejada ou negociada. De qualquer forma, o leite já foi derramado e, neste momento, a questão é saber como vai ser o “dia seguinte” – ou seja, o hoje.

Antes da crise, muitas empresas que vinham desenvolvendo excelentes programas voltados para a melhoria do clima interno, com ótimas políticas de integração, motivação, comunicação, saúde, qualidade de vida, benefícios e outros. De repente, veio a crise e o sonho acabou – ou foi drasticamente interrompido. Para as empresas, vendas e produção caíram e, como conseqüência, os resultados finais seguiram o mesmo caminho. Os funcionários viram seus colegas perderem os empregos, assistiram desconsolados a suspensão ou cancelamento dos programas de melhoria do clima e qualidade de vida - e alguns até negociaram para baixo seus salários para manter o emprego.

Que conseqüências comportamentais pode-se esperar de tudo isso? A insegurança permanece entre os profissionais, porque há o natural receio de que a crise ressurja forte como no começo. E, se isso acontecer, quem serão os próximos “sacrificados”? Se, no auge da crise, profissionais tão dedicados e competentes saíram, por que não sairia quem ficou e achava que tinha escapado? Quais os critérios que, na crise, foram adotados para escolher os demitidos? E quais serão adotados se a empresa precisar “enxugar” ainda mais seus custos? Contarão pontos a lealdade, o comprometimento, a dedicação, o tempo de casa, os bons serviços prestados, os ótimos resultados atingidos no passado? Deve haver funcionários se perguntando: por que a empresa mandou “fulano” embora, se era tão competente? Por que não mandou o “sicrano”, que é notoriamente menos capaz?
Essas são feridas que precisam ser tratadas daqui para frente e cabe às empresas que fizeram demissões refletir a respeito e avaliar se existem tais feridas na sua estrutura, no seu clima interno. Para consolidar a vitória definitiva sobre a crise, não convém a nenhuma empresa conviver com um ambiente de desconfiança, insegurança e ressentimentos. Onde houver seqüelas, será preciso recuperar a amizade, a admiração, a confiança, o comprometimento de toda a equipe. Precisará ser feito um pacto sincero, profissional, positivo, consistente de “começar de novo”.
Este será um trabalho delicado – mas fundamental. Um trabalho transparente e convincente de diálogo, feito por profissionais qualificados e experientes, capazes de interagir e estabelecer empatia com todos os colaboradores para entender as razões dos sentimentos e expectativas de cada um. Não se trata de justificar as demissões, mas de esclarecer as causas globais da crise, a situação em que a empresa ficou, as conseqüências naturais e a necessidade de medidas de sobrevivência geradas a partir daí. É indispensável que esse trabalho seja focado nas novas atitudes, condutas e políticas que passam a ser necessárias, daqui para frente, para a empresa retomar o crescimento anterior. Mas para que esse trabalho atinja o efeito desejado, é preciso que haja credibilidade e boa vontade em todo o processo. Recuperar confiança é muito mais difícil do que inspirá-la.

Acredito que muitas empresas e profissionais compartilharão desta nova preocupação com a relação capital/trabalho pós-crise e tratarão de fazer o que deve ser feito. Mas poderá haver quem não a ache relevante – e nada farão a respeito. Na minha modesta opinião, a opção por qualquer uma dessas duas posturas fará toda a diferença do mundo para a empresa que pretenda voltar a crescer. Como em tudo na vida, aqui também é uma questão de escolha.

* O autor é psicólogo, consultor e palestrante, presidente da SOMMA4 Projetos em Gestão de Pessoas. É autor de vários livros e inúmeros artigos sobre o comportamento humano. Ex-diretor de RH e Qualidade de Vida de empresas nacionais e multinacionais.

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