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12.15.2008

"Ir com a cara do candidato" pesa muito no processo seletivo?

Por Karin Sato - InfoMoney

"Por mais que as pessoas queiram controlar ou negar, não tem jeito, todos nós somos guiados pelas emoções. Por isso, em um processo seletivo, não é difícil perceber que experiências anteriores do avaliador irão interferir na escolha do profissional", afirma a psicóloga organizacional e diretora da Human Value Consultoria, Meiry Kamia.

"Se o avaliador teve uma experiência positiva com um funcionário de descendência japonesa, por exemplo, ao estar diante de um candidato à vaga que apresente semelhanças físicas ou comportamentais com o funcionário anterior, seu cérebro enviará mensagens de amizade e prazer, e ele terá a sensação de que já conhece essa pessoa e terá poucos problemas com ela", explica ela.

O contrário também acontece. Se o avaliador já teve uma experiência ruim com uma pessoa com pouca experiência, ou alguém com olhos claros, ou falador demais, ou ainda um ruivo, quando conhece um candidato com tais semelhanças físicas e comportamentais, seu cérebro envia mensagens de que ele trará problemas. A tendência, por mais cruel que seja, é que o sujeito não seja admitido.

Empatia é fundamental

O sócio da consultoria de processos seletivos Steer Recursos Humanos, Ivan Witt, opina que "ir com a cara" do candidato é fundamental para a empresa que está contratando. "Nunca soube de empresas que contratassem alguém que não fosse com a cara", diz ele.

Mas, para ele, não existem casos de antipatia gratuita e, muitas vezes, o próprio candidato pode ter cometido um erro, em algum momento. "Algo não funcionou. Houve um choque de personalidades, uma descompostura, uma aversão à apresentação ou aos modos do candidato. É surpreendente a quantidade de informação que passamos simplesmente com nossa presença. E o selecionador experiente estará atento à linguagem corporal, à ansiedade, ao discernimento e à conduta. Não há como prever, mas alguns cuidados por parte do candidato podem ser tomados".

Ele enfatiza ainda que dificilmente a empatia é um fator decisório para as empresas. O headhunter da Robert Wong, Renato Bagnolesi, concorda com essa teoria. "O feeling do entrevistador pesa, mas, no fim do dia, o que importa são os resultados. Logo, empatia é importante, mas a empresa não pode deixar de olhar para outros aspectos muito importantes, como as referências, as competências técnicas e o legado que esse profissional deixou nas empresas pelas quais ele passou. Também é importante entender suas expectativas".

Bagnolesi ressalta que, independente de o entrevistador "ir com a cara" do candidato, ele deve fazer perguntas pertinentes, com certa frieza, para descobrir suas limitações e descortinar as chances de sucesso dessa pessoa na empresa. "Acontece muito de o candidato ser tão agradável que o selecionador, encantado, esquece de fazer uma entrevista adequada. É como aquela premissa de que o amor é cego".

Dicas para o selecionador

Meiry diz que, se o avaliador não possui consciência do processo cerebral que acontece durante processos seletivos, ele pode confundir essa sensação, tanto favorável como desfavorável, com intuição, ou algo divino, e descartar um profissional talentoso simplesmente por não "ter ido com a cara" dele.

"Decisões baseadas em experiências passadas e inconscientes podem levar o avaliador a cometer graves erros de tomada de decisão, pois pode deixar de contratar um bom funcionário, bem como pode se decepcionar ao contratar um funcionário que não corresponderá às suas expectativas", afirma a psicóloga organizacional.

"Por essa razão, o autoconhecimento é importante para o selecionador. O conhecimento do funcionamento das próprias emoções e motivações ocultas que o levam a agir de determinadas formas abrirá maiores possibilidades para que ele seja mais justo não só com os outros, como também consigo mesmo e com a empresa", finaliza ela.

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