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9.15.2008

Cérebro cansado? Já sentiu isso? Eu já!

Tomar decisões extenua o cérebro

O cérebro é como um músculo: quando cansado torna-se menos eficaz.

Por: On Amir

A mente humana é uma máquina notável, porém limitada. Recentemente, um conjunto crescente de pesquisas tem focalizado certa limitação mental, relacionada à nossa capacidade de usar uma peculiaridade da mente conhecida como função executiva. Quando se concentra em uma tarefa específica por um período prolongado ou se opta por comer uma salada em vez de um pedaço de bolo, os músculos da função executiva estão sendo flexionados. Os dois processos mentais exigem esforço consciente ─ de resistir à tentação de deixar a sua mente vagar ou de sucumbir ao prazer da sobremesa. O problema é que a utilização da função executiva ─ um talento em que todos confiam do começo ao fim do dia ─ recorre a uma única fonte cerebral de capacidade limitada. Quando esse recurso é esgotado por uma atividade, nossa capacidade mental pode ser seriamente reduzida para outras atividades aparentemente estranhas.


Imagine que precisa tomar uma decisão muito difícil, por exemplo, decidir entre duas ofertas de emprego, qual aceitar. Uma posição oferece boa remuneração e segurança, mas é bastante trivial, enquanto que outra é realmente interessante e oferece remuneração razoável, mas não proporciona segurança. É claro que você pode resolver este dilema de muitas maneiras. Poucas pessoas, no entanto, diriam que sua decisão seria afetada ou influenciada por ter resistido ou não, ao desejo de comer biscoitos antes de estudar as ofertas de trabalho. Uma década de investigação psicológica sugere o contrário. Atividades independentes que sobrecarregam a função executiva têm efeitos prolongados importantes, e pode perturbar a capacidade de tomar uma decisão séria. Em outras palavras, você poderá escolher o emprego errado porque não ter comido um biscoito.


Tarefas Onerosas


Mas, que tipo de ações esgota a função executiva e afetam a tomada de decisões posteriores? Até recentemente, pesquisadores concentraram-se em atividades que envolviam o exercício do autocontrole ou o direcionamento da atenção. Por exemplo, há muito se admite que tarefas cognitivas extenuantes ─ como submeter-se ao Teste de Aptidão Escolar (SAT, em inglês) ─ pode tornar mais difícil concentrar-se depois. Resultados recentes sugerem que essas atividades mentais exigentes podem ser de âmbito muito mais amplo ─ e podem até envolver a própria atividade de fazer escolhas.

Em uma série de experiências e estudos de campo, a psicóloga da University of Minnesota, Kathleen Vohs e colegas, demonstraram repetidamente que o simples ato de fazer uma escolha pode empobrecer os recursos executivos. Pesquisadores descobriram que participantes que fizeram mais escolhas em um shopping center, eram menos susceptíveis a persistir e se sair bem na resolução de problemas simples de álgebra. Em outra tarefa do mesmo estudo, os estudantes que deviam marcar suas preferências sobre cursos necessários para completar sua graduação tinham mais chances de adiar a preparação para um teste importante. Em vez de estudar, essas mentes "cansadas" se envolviam em atividades de lazer e distração.

Por que é tão difícil tomar uma decisão? Evidências envolvem dois componentes importantes: compromisso e decisão sobre escolhas conflitantes. O primeiro tem por base a noção de que se comprometer com uma determinada ação exige uma mudança do estado de deliberação para o de execução. Em outras palavras, é preciso fazer uma transição da reflexão sobre opções para realmente dar prosseguimento a uma decisão. Essa mudança, segundo Vohs, exige recursos das faculdades executivas.

Em uma investigação paralela, o professor Nathan Novemsky e seus colegas da Yale University sugerem que o simples ato de resolver escolhas conflitantes pode ser extenuante. Por exemplo, cientistas mostram que pessoas que tinham que avaliar o grau de atração entre diferentes opções ficavam muito menos esgotadas que aquelas que tinham que fazer escolhas exatamente entre as mesmas opções.

Exigente nas Escolhas

Estas conclusões têm implicações importantes no mundo real. Se fazer escolhas esgota os recursos executivos, então as decisões subseqüentes podem ser afetadas negativamente pois somos forçados a escolher com um cérebro fatigado. Com efeito, a psicóloga da University of Maryland, Anastasiya Pocheptsova e seus colegas, observaram exatamente esse efeito: indivíduos que tinham que prestar atenção ─ o que exige controle executivo ─ fizeram escolhas significativamente diferentes de pessoas que não precisaram controlar a atenção.

Essas opções seguem um padrão muito específico: dependem de uma forma cada vez mais simplista, e muitas vezes inferior, de um processo mental, e assim podem ceder a um engano perceptivo. Por exemplo, participantes que foram solicitados a ignorar as legendas interessantes de um videoclipe enfadonho ficavam muito mais propensos a escolher uma opção mais próxima de um “engano” claramente inferior ─ uma opção semelhante a uma das boas escolhas, mas que obviamente não era tão boa ─ do que participantes que assistiram ao mesmo clipe, mas que foram solicitados a não ignorar nada.

Provavelmente, a tentativa de controlar a atenção e ignorar uma sugestão interessante exauriu o limitado recurso das funções executivas, tornando significativamente mais difícil ignorar a existência da opção inferior. Os indivíduos com cérebros excessivamente solicitados tomam piores decisões. Esses resultados experimentais sugerem que o cérebro funciona como um músculo: quando esgotado, torna-se menos eficaz. Portanto, devemos levar em conta esse conhecimento ao tomar decisões. Se passarmos muito tempo concentrados em uma tarefa específica, exercitando o autocontrole ou mesmo se fizermos apenas uma série de escolhas aparentemente pequenas, então não devemos tentar tomar uma decisão importante. Estes efeitos prejudiciais acumulativos de um cérebro cansado podem ter um efeito desastroso no rumo de nossas vidas.

Questões da Mente é editada por Jonas Lehrer, escritor científico que mantém o blog The Frontal Córtex (Córtex Frontal) e do livro Proust was a Neuroscientist (Proust era Neurocientista).

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